terça-feira, 29 de julho de 2014

Fachada do templo sede, em Abre e Lima
Por Márcio Santos

Historicamente falando, a Igreja Evangélica Assembleia de Deus em Pernambuco é portadora de um patrimônio cultural gigantesco. Diferentemente de outras denominações, a AD desde os seus primórdios cresceu abalizada no costume dos missionários suecos que desembarcaram no Brasil e consequentemente, foi constituída de um sistema de governo presbiteral autônomo.

Isso quer dizer que, em cada estado onde a AD chegava, a direção dos trabalhos eram dados literalmente aos pastores locais. Partindo desse pressuposto, podemos fazer duas análises críticas.

Primeira: Observamos com isso que de uma certa forma, a AD aos poucos estava se fragmentando em sua forma de ministério. Já que em cada estado era constituído um pastor presidente, a igreja obviamente estava pouco a pouco isolando-se uma das outras.

Entretanto, isso não quer dizer que cada ministério ficava solto para incrementar no rebanho o que bem entendiam, até porque cada ministério era independente, contudo ligado a CGADB (Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil). A CGADB era e ainda é hoje o órgão diretor de maior responsabilidade doutrinária da denominação, responsável apenas na condução dos pastores no país.

Segundo: Mesmo sem querer, a AD com essa autonomia ministerial em cada estado, estava deixando a desejar numa direção firme segura em seus posicionamentos. Isso apenas seria visto muitos anos depois quando a AD tomaria dimensões além daquelas imaginadas pelos nossos pioneiros. Quanto a isso, penso que jamais Daniel Berg e Gunnar Vingren tinham em mente as divisões que hoje existem dentro da própria denominação, como por exemplo a convenção de Madureira, uma das mais antigas do Brasil fundada pelo consagrado músico e pastor Paulo Leivas Macalão.

Porém, um dos mais falados e relatados casos de divisões entre as AD no Brasil, é sem dúvida o caso dos ministérios de Recife e Abreu e Lima. Constantemente sou questionado sobre essa divisão, e com o objetivo de esclarecer algumas dúvidas estive pesquisando como a AD em nosso estado chegou a tal ponto de discordância. Jamais alguém poderá entender essa divisão se não remeter os olhos ao passado.

No ano de 1916, chegava a Pernambuco um crente chamado Adriano Nobre que já conhecia o poder pentecostal trazido por Deus pelos missionários suecos em Belém do Pará. Em terras molhadas pelo Rio Capibaribe, Adriano Nobre ganhou para Jesus uma família simples na capital. Em 1918, finalmente chegava ao estado o reforço esperado, era o casal de missionário sueco Joel Carlson e Signe Carlson.

A AD começou a crescer e se expandir para o interior. Em 1927, surgia um povoado chamado de Maricota próximo a região de Paulista. Mais tarde esse nome foi transferido para Abreu e Lima. Depois de muito esforço, perseguição e lutas, o trabalho tomou crescimento em Abreu e Lima, sendo necessário a construção de um belo templo.

Pr. João de Paiva - 1947 a 1953
O que muitos não sabem é que, segundo a história oficial de Abreu e Lima, desde esse tempo a direção daquela igreja local já denotava querer ser autônoma em suas decisões, o que era um grave erro ante a 
convenção da mesma em Recife. Em 1953, o então pastor de Abreu e Lima João de Paiva, resolveu dar autonomia jurídica a igreja - após esse registro, chamado de Campo de Abreu e Lima.

Como era de se esperar, no dia 13 de novembro daquele ano, o pastor João de Paiva foi destituído do cargo pelo ministério em Recife. Sobre esse momento, o historiador Mário Sérgio de Santana escreve:

"Teria a atitude do pastor João de Paiva ligações com a crise sucessória da AD em Recife? Pois em setembro do mesmo ano, o pastor José Bezerra da Silva é destituído por questões morais do seu cargo de líder da igreja. O comando interino da igreja ficou sob a responsabilidade do pastor José da Rosa Santos, até a posse de Manuel Messias em 02 de novembro de 1953. No livro histórico da AD em Abreu e Lima, os autores deixam uma pista. Segundo os escritores, pastor Paiva citava sempre o versículo de Provérbios 24. 21: "Teme ao Senhor, filho meu, e não te entremetas com os que buscam mudanças"." (AD e a Divisão em Pernambuco).

Com a saída do pastor João de Paiva da direção da igreja em Abreu e Lima, assumiu o pastor José Rosa dos Santos. Devido alguns problemas no ministério em Recife, pastor Rosa foi convidado a assumir a presidência daquela igreja. Com a ausência do mesmo em Abreu e Lima, João de Paiva tentou mais uma vez dar autonomia ao campo.

Mas Abreu e Lima não tomava iniciativa autônomas apenas na justiça, como também nos costumes da igreja. O ministério da AD em Abre e Lima também estava sendo acusado de romper com a "tradição sueca, trazida pelo missionário Joel Carlson" e de sair da "doutrina". O motivo era a individualização dos cálices na Santa Ceia, algo que na época, nenhuma AD no Brasil fazia.

Na verdade, esses acontecimentos mostravam claramente ao ministério de Recife que Abreu e Lima pretendia um desligamento para ser independente em tudo, o que não foi bem assim. Só depois de 30 anos, com o então pastor Isaac Martins foi que o ministério da AD em Abreu e Lima conseguiu se desligar do ministério de Recife. 

Apesar de hoje existirem inúmeros que tentem legitimar essa divisão, não foi o ministério de Recife que desligou o ministério de Abreu e Lima. Essa divisão, chamada de "Divisão branca", foi ocasionada pelo próprio ministério de Abreu e Lima em contrapartida as decisões do ministério de Recife. Entre esses desentendimentos, sobrou apenas a fachada do templo com o mesmo nome construído em cima de conflitos. Conflitos estes que tratarei em um segundo artigo.

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Fontes Bibliográficas: 

SANTOS, Roberto José. (Org.). Assembleia de Deus em Abreu e Lima - 80 Anos: síntese histórica. Abreu e Lima: FLAMAR, 2008.

ANDRADE, Moisés Germano de. "Uma história social" da Assembleia de Deus: a conversão religiosa como forma de ressocializar pessoas oriundas da criminalidade. Dissertação (Mestrado) - Universidade católica de Pernambuco. Pró-reitoria Acadêmica. Curso de Mestrado em Ciências da religião, 2010.

FRESTON, Paul. Breve História do Pentecostalismo. In: ANTONIAZZI, Alberto. Nem anjos nem demônios; interpretações sociológicas do pentecostalismo. Petrópolis: Vozes, 1994.

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